O programa Prosa e Notícia de hoje, dia 06 de outubro de 2025, recebeu a apresentadora Bárbara Rufino. Durante a entrevista, ela falou sobre projetos pessoais, sua curta passagem pela Prefeitura Municipal de Ituiutaba (MG), e teceu duras críticas à Superintendência de Água e Esgotos (SAE), apontando problemas que vão desde o aumento “abusivo” nas tarifas de água até práticas de nepotismo e apadrinhamento político dentro da autarquia. Ela falou também sobre as diversas tentativas de cerceamento da palavra sofridos por ela por parte da atual administração pública: “A gente vive numa democracia. Seria bem problemático se eu tivesse as minhas redes sociais suspensas pelo fato de estar questionando”, afirmou.
SAE E DENÚNCIAS DE “NEPOTISMO”
Bárbara relembrou momentos em que a mobilização popular obteve vitórias, como em 2013, quando foi barrado um reajuste na conta de água. No entanto, segundo ela, a situação atual é bem diferente. “Hoje a conta de água está cada vez mais cara, é um verdadeiro cabide de empregos. Muitos estão lá ganhando dinheiro fácil, enquanto quem realmente trabalha não é valorizado”, declarou.
Aumento na conta de água e impacto nas famílias de baixa renda
Rufino denunciou o empréstimo de mais de 30 milhões de reais contraído pela SAE, que, segundo ela, trouxe consequências diretas ao bolso da população. De acordo com Rufino, em alguns bairros, o valor da água passou a ser superior até mesmo ao valor da energia elétrica, que é comumente mais cara. Bárbara criticou ainda a prefeita Leandra Guedes, por se referir ao empréstimo como um “presentão”: “Presentão só se for pra ela, porque pro povo é ferro”, ironizou.
Rufino também relatou reclamações populares não só quanto ao aumento abusivo das contas, mas também à mudança inesperada na data de vencimento, que teria prejudicado famílias de baixa renda. “Eles colocaram o vencimento no dia primeiro, mas a maioria das pessoas recebe só no quinto dia útil. Muita gente atrasou pagamento sem saber”, explicou.
A apresentadora acrescentou que consumidores vêm sendo surpreendidos com doações automáticas a instituições inseridas nas contas sem autorização: “Tem gente com desconto pra doação que nunca autorizou”.
O aumento, segundo Rufino, seria injustificado, uma vez que, durante a audiência pública promovida na Câmara dos Vereadores para discutir a temática, um engenheiro que esteve entre os presentes afirmou que a SAE seria autossuficiente, não necessitando do empréstimo para realização das obras. A justificativa do aumento populacional para realização das obras também foi criticada, com Rufino afirmando que “na verdade, o povo tá indo é embora de Ituiutaba, porque [na cidade] não tem oportunidades”.
Cargos públicos e apadrinhamento político
Outro ponto abordado foi o aparente nepotismo dentro da administração municipal. Bárbara e os apresentadores citaram parentes e aliados políticos ocupando cargos estratégicos na SAE e em diversas secretarias: “A família inteira está empregada na prefeitura. São pessoas sem formação técnica, colocadas por vínculos familiares”, afirmou Bárbara, citando casos que envolveriam irmãos, sobrinhos e cônjuges da prefeita, do vice-prefeito e de outros membros da cúpula do governo (como a Procuradora Geral do município) em cargos públicos. Jaderson complementou dizendo que, em muitos casos, esta atitude “não seria ilegal, mas com certeza, imoral”.
Rufino defendeu que apenas uma denúncia formal poderia gerar mudanças efetivas: “Quem tem que agir são os vereadores, mas será que vão ter coragem de denunciar seus colegas?”, questionou.
SAÚDE PÚBLICA
A apresentadora também abordou problemas na área da saúde, citando o abandono do atendimento pediátrico na Unidade Mista da Criança e a demora na implantação do PSF do bairro Nadime Derze. “As mães estão indo de um lado pro outro sem atendimento adequado. O serviço foi desativado e as crianças ficam sem pediatra. Denunciei ao Ministério Público e o órgão está acompanhando o caso”, informou. Ela opinou também sobre a viabilidade de novos postos de saúde prometidos pela prefeitura, já que faltariam profissionais e estrutura adequada para funcionamento efetivo.
PSF Nadime Derze e Unidade Mista da Criança
Ao responder à pergunta de uma ouvinte, Bárbara relatou que a criação do PSF no Nadime Derze é uma demanda antiga da comunidade, reconhecida inclusive pela própria prefeita e pelo secretário de saúde. Segundo ela, o bairro registrou recorde de vacinação, o que demonstra a necessidade de estrutura médica local. “O Nadime Derze bateu recorde na vacinação, foram 250 pessoas vacinadas. É um bairro com demanda real, que luta há muito tempo por esse PSF. A população cobra, mas até agora depende só da prefeitura”, afirmou.
Bárbara explicou que a prefeitura já encontrou um imóvel adequado às exigências da Vigilância Sanitária, o que sempre foi um dos principais entraves. “A casa foi encontrada, atende a todos os padrões exigidos. O problema agora é apenas financeiro. Está tudo nas mãos da prefeitura”, declarou.
Ela também criticou duramente a mudança no atendimento pediátrico feita pela Secretaria de Saúde, que transferiu o serviço da Unidade Mista da Criança para os PSFs — uma medida anunciada ainda em dezembro de 2024 e que, segundo ela, tem causado transtornos a centenas de mães. “Desde o início alertamos que não daria certo. Fizeram live, colocaram um bebezinho sorridente dizendo ‘a saúde mais perto de você’, mas a realidade é bem diferente. As mães estão de um lado para o outro sem pediatra”, relatou.
Ela afirmou que muitos atendimentos infantis acabam sendo feitos por clínicos gerais, o que, além de comprometer diagnósticos, gera sobrecarga no pronto-socorro municipal. “As mães ligam pra marcar e ouvem ‘não tem agenda’. Quando conseguem ir, não tem médico. É um descaso total”, denunciou.
O apresentador Fábio aproveitou para criticar a falta de coerência entre as exigências sanitárias e as condições de limpeza nos próprios postos existentes: “Se é sujeira que está lá, a vigilância não atua. A casa tem que ser igual a que eles querem, mas limpeza parece que não é exigência”, ironizou, apontando a denúncia feita pelo convidado Renato Moura em entrevista ao programa.
Ainda sobre as unidades de saúde básicas, o apresentador Jaderson Agostinho questionou se o município teria condições técnicas e de pessoal para fazer funcionar mais um PSF, considerando que Ituiutaba está prestes a receber sete novas unidades do Estado. Ele citou o exemplo do bairro Alvorada, que ficou sem médico no fim de semana no qual ocorreu a morte de uma paciente, embora houvesse equipe de enfermagem.
A reportagem ainda relembrou que a unidade pediátrica no bairro Progresso foi promessa de campanha da prefeita, apresentada como solução definitiva para o atendimento infantil. Jaderson, que acompanhou de perto o caso, classificou a inauguração como “pelas coxas”, reforçando que o espaço nunca funcionou plenamente. “Foi um projeto de campanha, inaugurado às pressas e abandonado logo depois. Não teve continuidade, e hoje o atendimento está precarizado”, lamentou.
Rufino concordou com a avaliação e destacou que a principal preocupação não é a construção das unidades, mas o funcionamento adequado delas. “De nada adianta uma estrutura linda, de fachada, se o serviço não funciona. A gente quer saber se vai haver profissionais, se vai ter atendimento humanizado e estrutura suficiente. Hoje, os servidores estão sobrecarregados”, apontou.
Denúncia ao Ministério Público
Diante das irregularidades, Bárbara informou que protocolou uma denúncia formal no Ministério Público, anexando um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas, colhidas em tempo recorde. “O Ministério Público encaminhou o caso e está acompanhando de perto. A Secretaria de Saúde foi notificada, mas a justificativa que apresentou não foi convincente. Eles terão que responder com dados — e será difícil fazer isso sem mentir”, afirmou.
Segundo ela, os órgãos de controle solicitaram relatórios detalhados de atendimentos, que, de acordo com a ativista, devem demonstrar um aumento significativo na procura pelo pronto-socorro após a desativação da Unidade Mista da Criança. “Não tem como esconder o resultado. Foi uma decisão errada e quem paga o preço são as famílias”, completou.
CARGO “SIMBÓLICO”, PODCAST E PERSEGUIÇÃO POLÍTICA
Rufino esclareceu que o salário não foi sua motivação para aceitar a posição que ocupou na Prefeitura Municipal de Ituiutaba. Ela afirma que o cargo — de assessora na Secretaria de Desenvolvimento Social — era de nível SC-5, um dos mais baixos da hierarquia municipal. “Não foi pelo dinheiro. Eu acreditava que teria autonomia para resolver demandas, mas logo percebi que não”. A ativista contou que, mesmo com limitações, conseguiu resolver diversas demandas sociais durante o período em que esteve na prefeitura, mas percebeu que sua atuação começou a incomodar. “Começaram a tentar me invisibilizar. Eu via que não teria espaço para crescer, nem autonomia. Vi pessoas adoecendo naquele ambiente, afastadas por estresse. A gestão é perseguidora, e eu falo com propriedade: perseguem até familiares da gente para tentar nos atingir”, denunciou.
Aproximação com Pri Barro e denúncias de rachadinha
Questionada sobre sua relação com a ex-servidora Priscilla Barro, que fez denúncias de rachadinha e irregularidades na gestão, Bárbara explicou que só passou a ter contato com ela após o início das denúncias públicas. “Eu a via na secretaria, mas nunca tínhamos conversado. Depois que ela começou a denunciar, passei a falar com ela por WhatsApp. Me identifiquei com o que ela estava vivendo — a falta de apoio, a tentativa de descredibilizar quem fala”, disse.
Segundo Bárbara, Pri Barro chegou a manifestar o desejo de falar na tribuna da Câmara Municipal, mas não teve a oportunidade. “Ela se colocou à disposição, mas não a deixaram falar. E muita mídia daqui não é imparcial, tem contrato com repartições públicas. Recebem para puxar saco de político, não para informar a população”, criticou.
Rufino contou que o convite de Pri Barro coincidiu com o momento em que o público pedia o retorno do podcast que ela apresentava, interrompido por conta de perseguições e dificuldades para encontrar estúdios disponíveis. “Alguns estúdios prestam serviço para a prefeitura, outros têm funcionários ligados à administração e ficaram com medo de retaliação. Foi difícil recomeçar”, relatou.
Decidida a retomar o programa de forma independente e sem patrocínio, Bárbara explicou que tomou diversas medidas de segurança para garantir que a entrevista com Pri Barro acontecesse sem interferências. “Nada foi financiado por ninguém. A estrutura foi simples, mas feita com muito cuidado. Postávamos fora do tempo para evitar que derrubassem a live. Até menti sobre o horário e o local por questão de segurança. Amigos se colocaram à disposição para ajudar, até com escolta”, contou. Ela disse ter optado por transmitir a entrevista pelo seu próprio perfil pessoal, e não pelo do podcast, prevendo uma possível tentativa de derrubada da transmissão. “Sabíamos que podiam tentar tirar o ar, então tudo foi planejado para garantir que o conteúdo chegasse à população. E foi o que aconteceu”, concluiu.
Tentativas de censura e clamor pela liberdade de expressão
Ela revelou ainda que acredita ter sido convidada pela gestão atual para ocupar um cargo público com o objetivo de calar suas críticas e exposições públicas a respeito de falhas nas administrações municipais. A declaração foi dada em resposta a uma pergunta feita por um ouvinte da rádio, que questionou se a nomeação teria sido uma tentativa de silenciamento. Bárbara não hesitou em afirmar que o convite teve esse propósito. “Sem dúvida alguma. Esse foi um dos motivos pelos quais eu quis sair. Depois ainda lançaram uma fake news dizendo que eu tinha sido mandada embora, mas eu saí por vontade própria”, disse.
Bárbara continuou explicando que seu desligamento foi uma decisão pessoal, motivada também por princípios. “O ambiente era tóxico, muita gente falsa. Eu não nasci para puxar saco, e se para ficar tivesse que ser conivente com coisa errada, preferi sair. Não tem dinheiro que pague a nossa sanidade mental”, afirmou. “Tentaram me apagar. Depois que falei isso, muita gente me mandou mensagem dizendo que viveu o mesmo ambiente. Muita gente doente lá dentro”, revelou.
Ela relatou que a gota d’água foi um episódio durante o apagão que atingiu bairros de Ituiutaba, quando criticou publicamente a SAE por sua incapacidade de manter serviços essenciais. “Fiz uma publicação dizendo que a SAE arrecada milhões, mas não oferece um serviço de qualidade. Me chamaram e exigiram que eu apagasse o post. Eu disse que não. Quando cheguei [à secretaria], tinha várias autoridades me esperando, bati palma e falei: ‘estou me sentindo importante, hein?’”, contou, em tom irônico.
Ao falar sobre o impacto de suas críticas, Bárbara revelou ter sido alvo de processos judiciais e até de uma tentativa de bloqueio de suas redes sociais e do WhatsApp — o que foi negado pela Justiça. “O juiz indeferiu, afirmando que políticos são figuras públicas e precisam lidar com críticas. A liberdade de expressão deve prevalecer”, destacou, elogiando sua advogada pelo apoio no caso.
Perguntada se apoia algum político local, Bárbara respondeu que atua de forma independente. “Eu sou carreira solo. Apoio pautas de interesse da população, independentemente de partido, mas não apoio ninguém”, disse.
Durante a entrevista, Rufino reafirmou sua disposição em continuar cobrando transparência e responsabilidade do poder público: “Eu não tenho medo, mas também não quero virar estatística. Continuo falando, porque é dever do cidadão cobrar e fiscalizar quem está no poder”.
A entrevista completa está disponível em nosso perfil no Instagram.
											
								
								
															

